Professores do SESI transformam vidas com educação conectada à realidade e aprendizado prático
Uma aula de trigonometria ao ar livre em que os alunos tinham de encontrar alturas desconhecidas – como a da caixa d´água da escola – por meio de cálculos envolvendo ângulos e lados de triângulos definiu a carreira de Ederson Pastor, 35 anos. Naquele momento, não teve dúvidas de que seria professor de matemática. “Senti-me como um super herói, com super poderes. A matemática parecia mágica ao me ajudar a desvendar mistérios como a altura de objetos que estavam muito distantes do chão, fora do meu alcance”, relata Ederson, que há nove anos é professor da escola do Serviço Social da Indústria (SESI) em Birigui (SP).
A experiência prática, que despertou sua paixão pelas exatas, continua presente na vida de “Derso”, como Ederson é carinhosamente chamado por colegas e alunos. No ano passado, por exemplo, projetou com os alunos do ensino médio uma casa para cadeirante. Enquanto os alunos do primeiro ano desenharam a planta da moradia, os do segundo período construíram o guarda-roupa adequado às medidas do imóvel e os do terceiro ano fizeram uma porta automática. “Com esses projetos, trabalhamos conhecimentos de geometria espacial, lógica e programação”, explica o professor.
A iniciativa envolveu não apenas a disciplina de matemática, mas outras como Língua Portuguesa, com produção de texto, e Artes, com a produção de banner e logomarca do projeto. Profissionais de arquitetura, marcenaria e psicologia voltada à inclusão de deficientes também foram chamados para avaliar os projetos e passar orientações aos estudantes. “O Derso sabe construir desafios e estimular os alunos para solução de problemas, pensar estrategicamente, com foco no bem maior. Ele dá vida ao conteúdo e faz com que os estudantes se apaixonem pela matemática”, destaca Luzilene Escardovelli, coordenadora pedagógica da escola SESI em Birigui.
Essa declaração se reflete na quantidade de jovens que se inspiraram em Ederson na escolha da carreira. Hoje, o professor tem seis ex-alunos cursando graduação em matemática. “É um número relevante e isso sem contar muitos que decidiram cursar outros cursos na área de exatas”, comemora o professor. Entre as lembranças marcantes da carreira de Ederson está o de uma aluna que há cinco anos passou por um período difícil, com gravidez precoce e morte da mãe, e que teve de abandonar a escola. “Recentemente recebi mensagem dela via Instagram me agradecendo pela influência que tive em sua vida e que decidiu ser professora de matemática”, alegra-se. Confira aqui o projeto completo.
CARRO SUSTENTÁVEL – Em Corumbá (MS), alunos do SESI foram desafiados a confeccionar um carro de rolimã que fosse ambientalmente sustentável em um projeto de iniciação científica. Alimentado por energia solar fotovoltaica, o carrinho se movimenta por meio de um motor de arranque. Por trás dessa iniciativa, que chamou a atenção em diversas feiras pelo Brasil e foi premiada recentemente pela editora Somos, está a liderança da professora de física e matemática Ellen Conrado, de 33 anos. No ano passado, ela foi desafiada pela gestão da escola a construir projetos de iniciação científica e sente-se recompensada com os resultados. “Quando os alunos vivenciam a parte prática, cresce o interesse pela área de exatas. Afinal, a gente respira matemática e física, não vivemos sem elas”, afirma a professora.
Essa preocupação com a experiência prática dos alunos surgiu em Ellen pela carência em sua formação de ver a presença das disciplinas no dia a dia das pessoas. “Não sonhava em ser professora de matemática, o interesse veio com o tempo e acabei me interessando tanto que, no fim da graduação, decidi cursar física. Hoje sou mais ligada à física”, conta. “Gosto muito de desafios e vou em busca daquilo que acredito e incentivo essa criatividade nos meus alunos”, relata.
EDUCAÇÃO FINANCEIRA – Alunos da escola do SESI em Ananindeua (PA), município da Região Metropolitana de Belém, se divertem na disciplina de matemática que alia conteúdos à educação financeira. Para se ter uma ideia, no aprendizado de geometria, eles simulam a reforma de uma casa e fazem cálculos de área e volume. “A partir daí, desenvolvem orçamento para a troca de piso ao analisar o valor dos materiais por metro quadrado, por exemplo”, explica o professor Isaías Pinheiro, idealizador do projeto juntamente com a pedagoga Rute Helena Coelho.
O pai de Isaías era contador e quando adolescente ele ajudava no escritório do pai e percebeu que havia grande deficiência na educação financeira das pessoas. “Até mesmo empresários, que precisam de resultados nos negócios, não tinham muita noção do tema. Percebi que era possível começar a preparar as crianças a lidarem com o dinheiro”, destaca Isaías, que ministra aulas a alunos a partir do 6º ano até o ensino médio.
Além de aliar o aprendizado teórico ao prático, os alunos vivenciam a situação de compra e venda na Feira do Desapego, realizada pela escola anualmente na Semana de Educação Financeira. Nesse momento, os estudantes trazem coisas de casa que não usam mais ou confeccionam produtos a partir de materiais reciclados. Criaram, inclusive, uma moeda fictícia – o “SesiCoin”. O valor que cada aluno obtém varia de acordo com as notas que tiraram no primeiro semestre do ano. “Quando o aluno sabe que o aprendizado será útil para ele, aumenta o interesse”, ressalta Rute.
AULA HUMANIZADA – Na turma da disciplina Educação para Valores, ministrada pela professora Silvana Barros a 161 alunos da Escola SESI SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) Ceará, em Fortaleza, é comum estudantes estarem sentados ou deitados sobre colchonetes, ora conversando, ora em silêncio, refletindo sobre temas como ética e honestidade. Dinâmicas comportamentais também são frequentes para “testar” os verdadeiros valores dos jovens. “O intuito é desenvolver o poder de decisão dos alunos para prevenir problemas como drogas, suicídio, automutilação, entre outros”, diz Silvana.
Mensalmente cada estudante se autoavalia no tema abordado, com base em seus comportamentos na família, sociedade e escola, e se dá uma nota. Depois a nota é confrontada com relatos de outros professores sobre o comportamento em sala de aula. “Se o aluno se dá nota 10, sem merecer, ele é convidado a refletir sobre os comportamentos inapropriados e convidado a se autoavaliar novamente, mas de forma alguma os professores mudam a nota que eles se dão”, explica Silvana.
Vira e volta ela se depara com um aluno que chora no meio de uma atividade ou avaliação. “Uma das principais causas desses problemas emocionais está na família, no abandono de mães e pais”, sentencia Silvana. A iniciativa da Educação para Valores veio da vocação e experiência pessoal de Silvana, muito tempo antes de cursar pedagogia. Ela já foi freira e trabalhou em projetos sociais. “Sempre me importei com as pessoas. Para mim, cada ser humano é um mistério, uma caixa de surpresas”, relata.
Uma das histórias mais marcantes de sua carreira foi quando deu aulas a crianças em um assentamento rural. Havia entre elas uma menina de 10 anos, bem mais baixa do que a média das crianças de sua idade, e que era extremamente agressiva. Certo dia, Silvana a pegou no colo e fez perguntas sobre a sua vida. “Ela se derramou em lágrimas porque enfrentava graves problemas familiares. Mas a partir daquele dia ela mudou seu comportamento”, lembra. “Um dia chegou para mim e disse: ‘Queria ter uma mãe igual a senhora’”, emociona-se.
MATEMÁTICA E MODA – Noções de geometria e estatística em meio a máquinas de costura, tecidos e retalhos. Assim foram as aulas de matemática de uma das turmas da educação de jovens e adultos (EJA) ministrada pela professora de matemática Daniela Mardula, da escola SESI de Jaraguá do Sul (SC), no semestre passado. “Esse foi um dos projetos mais desafiadores da minha carreira, pois tive de aprender um pouco de corte e costura para fazer a relação com a matemática e ensinar”, conta Daniela, reconhecida pela habilidade de sempre sair da zona de conforto.
De acordo com Janaina Lueders, coordenadora de Educação Básica e Profissional da escola, a capacidade de Daniela se renovar está no perfil acolhedor, de ouvir atentamente aos alunos e entender suas reais necessidades. “Além disso, ela corre atrás quando tem dúvidas e sabe planejar conteúdos junto com outros professores”, afirma Janaina. “A Daniela está sempre rodeada de pessoas de outras áreas, não só da educação básica, mas até da educação profissional do SENAI.”
Daniela inseriu noções de corte e costura naquela turma porque a maioria dos estudantes da turma trabalhavam em indústrias têxteis e tinham conhecimento na área. Para preparar o conteúdo, buscou apoio em técnicos do vestuário do SENAI. “Métodos de ensino contextualizados com a realidade do aluno e aprendizado prático são mais prazerosos”, destaca a professora.
Segundo Daniela, os alunos da EJA exigem que professores tornem a aula mais dinâmica porque, geralmente, saem cansados do trabalho e precisam de atividades para mantê-los ativos. “Além disso, o foco do professor deve ir muito além de ensinar matemática, mas incentivar e mostrar que os alunos são capazes, já que muitos chegam com baixa autoestima.”
SESI - A rede SESI conta com 501 escolas espalhadas em todo o País, com 9.857 professores e mais de 1,1 milhão de alunos na educação básica, de jovens e adultos e continuada. Criada em 1º de julho de 1946, a instituição tem como desafio desenvolver uma educação de excelência voltada para o mundo do trabalho e aumentar a produtividade da indústria. Para isso, construiu metodologias inovadoras que incentivam o aprendizado contínuo e o aprender fazendo, já que os profissionais do futuro terão mais de uma carreira ao longo da vida e terão de lidar com tecnologias avançadas. Foi pioneiro na implementação do novo ensino médio, que alia a educação regular à profissional, e de um método de educação de jovens e adultos (EJA) baseado em reconhecimento de saberes, que permite o aproveitamento curricular de aprendizados ao longo da vida.
A urgência em despertar nas crianças o interesse por áreas ligadas às profissões do futuro, como ciências, tecnologia, engenharia e artes e matemática, faz com que o SESI invista fortemente na robótica educacional e busque formas de expandir esse ensino em escolas públicas e privadas de todo o País. Para se ter uma ideia, o torneio de Robótica First Lego League (FLL), temporada 2018/2019, contou com 915 equipes, de escolas públicas e privadas, e o envolvimento direto de mais de 6 mil estudantes. Os resultados comprovam que a estratégia do SESI está correta: alunos envolvidos com robótica contam com as melhores aprovações no ENEM e tendem a buscar carreiras nas engenharias, que é a área mais demandada pela indústria brasileira.